O conjunto dos seis projectos aqui representados celebra a experimentação e a discussão do costumeiro, numa demonstração dos resultados das economias (de meios) e das ecologias (das circunstâncias) próprias à arquitectura do atelier local.
Em cada um dos propósitos a que se dedicam, o compromisso político cumpre-se no empenho em distinguir o essencial, o que já existe antes de serem chamados a intervir. Eis a condição fundamental que rege a prática: a da conformidade com o concreto. É aqui que se confirma a pertinência do nome “local” para nos referirmos ao atelier e do adjectivo “local” ao reflectirmos sobre o modo de projectar que favorecem. Ser local é, em certo sentido, declinar elegantemente uma autoria vincada. Projectar numa directriz local é recusar a insensibilidade. Prestam-se, pois, às consequências do diálogo de quem toma parte numa conversação. Só uma metodologia dialógica pode conceber exemplos como o observado na Casa em Paranhos, em que a vizinha participou no desenho rigoroso do muro; e ainda, nesse mesmo muro, o espelho inusitado, cuja colocação foi um mero acaso de obra. Também a horta da Casa-atelier homenageia a partilha ao ser cultivada por um agricultor que, esporadicamente, deixa umas couves prontas a consumir na mesa exterior mais pequena, perto da cozinha.
A partir do local, a reflexão passa irremediavelmente pelo global, com uma incidência particular sobre as pretensas externalidades à produção de arquitectura. A última casa construída, a Casa em Ancede, permanece como testemunho do esforço contrariado pelo contexto. No fundo, dá forma ao problema da procura pelo local que, em parte, ficou por superar: perante a impossibilidade do uso de materiais que responderiam às ecologias mais adequadas, o projecto teve de ceder nalgumas das premissas construtivas. Um desvio inevitável face aos condicionalismos ditados pelo cenário contemporâneo, marcado pela inflação e escassez de mão-de-obra. É, por isso, uma obra sintomática das lógicas mercantis que, por agora, nos parecem intransponíveis. Portanto, que fique o registo da tentativa de ser consequente nas escolhas. Afinal, a sustentabilidade afere-se aqui, na consideração das condições laborais e ambientais em que os materiais são extraídos e produzidos, na consciencialização sobre a proveniência e o tipo de transporte que é usado para o efeito.
Ainda que se constituam, cada um, num problema – uma vez mais, local e global, passe a redundância – os três projectos em curso servem-se das lições das três casas construídas. Os orçamentos aparentemente irrealizáveis mantêm-se, uma condição (para já) constante, a ser orquestrada entre condicionantes do programa, legais e materiais. Em certa medida, o desígnio do atelier local parece que tem vindo a ser o de materializar devaneios arquitectónicos. Neste sentido, as casas são uma espécie de “utopias realizáveis”, expressão decalcada a partir da teoria de Yona Friedman (1975), uma vez que derivam de insatisfações comuns e pressupõem um consentimento colectivo.
Na arquitectura do atelier local, em oposição à máxima aristotélica, a soma das partes é maior do que o todo: a acepção programática e volumétrica não basta para aferir a sofisticação das componentes. As razões poéticas encontram aqui uma consubstanciação material que o puro exercício aritmético não admite. Alguns dirão que isto não é para nefelibatas. A perspicácia reside no equilíbrio entre o suficiente e o indispensável nas coisas de todos os dias, no cumprimento do pressuposto de que Il fera beau demain (1995), o manifesto de Anne Lacaton & Jean-Philippe Vassal que o atelier local relembra e sustenta delicadamente. Seguramente, amanhã fará um lindo dia.