Seis projectos, três construídos e três em andamento. Poucos. Suficientes. Pequenos em escala. Domésticos. Familiares. De gestos simples. Com que simplicidade? Projectos que parecem locais, não exóticos. Projectos que pertencem. Misturas de recursos antigos e novos. Maravilhosamente imprecisos. Imprevisíveis. Gentilmente irritantes.
Economia e generosidade, ao mesmo tempo. Materiais de catálogo ocasionalmente subvertidos. Orçamentos abaixo de 500€/m2. Uma economia extrema (mas deliberada?) de meios. Talvez. Mais ou menos. Minimalista em meios, maximalista em intenções. Uma vibe francesa. Sem cópias. Sem imitação. Sem azulejos que imitam madeira. Sem ripados foleiros. Sem propaganda. Coisas expostas em vez de disfarçadas. Paredes de granito e bloco de cimento deixadas à vista. Uma tonalidade de verde em vez de branco. Caixilhos standard subvertidos por uma cor vívida. Momentos de vermelho, rosa, azul-escuro e verde-escuro. Sete baldes de tinta rosa aplicados em paredes, calhas, cornijas e rodapés. Rodapés rosa, persianas rosa, porta rosa e molduras de janela rosa. Cor, blasfema. Apenas cor. Cores convencionais em desenhos. O que resta, o que é adicionado. O que permanece e o que é removido. Vazios alternados. Dezassete recortes em paredes e superfícies. Confiar no processo. Lidar com idiotas municipais. Lutar uma boa luta. Saber falar com clientes. Perder, às vezes. Seis quartos sob vigas fortes interligados por uma série de vazios ocasionais, mas precisos. Uma espécie de raumplan de baixo custo. Camadas de pedra, tijolo, gesso, antigo e novo. Revelado e escondido. Erros e elementos encontrados. 43m2 de painéis de mdf e osb expostos. Quatro pesados troncos de madeira a cruzar espaços. Dormir ao lado de uma viga primitiva. Evitar a climatização. Vestir uma camisola se necessário. Deixar as paredes respirar. “Construção passiva”. Arquitectura num sentido mais amplo. Um quarto de círculo para uma pequena janela. Todos os tipos de janelas. Uma janela que se desdobra como banco e funciona como clarabóia para a cave. Elementos que colaboram. Algumas colaborações e poucos colaboradores. Um atelier com uma janela para a rua. Uma rua com uma janela para o atelier. Morar e trabalhar no mesmo espaço. Continuar a construir esse espaço até hoje. Construir uma ideia de habitar. Fundir conceitos de forma e habitar. Saber desfrutar da geometria. Marcar um quadrado amarelo e celebrar ligações técnicas. Uma espécie de momento baldessari sobre um problema chato. Problemas como vantagens. rodar outro quadrado, em planta. E ainda outro, desta vez com uma coluna. A coluna não está rodada. A outra coluna é circular. No piso de baixo, duas colunas novamente: outra circular e outra quadrada, ambas gordas. Astuto, não é? Três pares de portas de vidro protegem janelas existentes e provocam pequenos jardins de inverno. Três janelas redondas, uma grande e duas pequenas, todas emolduradas em vermelho. Paredes diagonais em plantas. Uma planta que é uma parede diagonal. O projecto é uma diagonal. A entrada também é um triângulo. A fachada frontal é brilhante. A fachada traseira é aborrecida. Deliberadamente, segundo consta. Degraus revestidos de granito sem corrimão. Duas cantoneiras para guiar a chuva, pintadas de vermelho. Duas portas de correr revestidas a espelho. Trinta e seis vigas de madeira, aparentemente. Projecções axonométricas de janelas. Desenhos axonométricos, com cor. Perspectiva geral. A necessidade de ver todos os desenhos de uma vez. Projectos que parecem iguais, mas não são. Espaços que parecem de projectos diferentes, mas não são. Muitas contradições. Algumas curvas hesitantes em planta. Contraplacado curvo. Sustentabilidade, de verdade. O tipo certo, na quantidade certa.
Perspectivas inteligentes e inteligíveis. Entender como enquadrar uma narrativa também é um sinal de inteligência. O atelier local é bom. Simples e bom. Tão bom que chega a ser irritante. E isso vai incomodar alguns. Principalmente porque são bons em algo que esses não entendem. Às vezes porque vão provocar, o que é ainda melhor.
Matemática de quartos, elementos, materiais, cores e metros quadrados. Matemática de erros, intencionais e ocasionais. Matemática de projectos. Matemática da prática da arquitectura. Medir e contar como uma tentativa de compreensão. Projectos concebidos a partir de pedaços e partes. Juxtaposições suaves. Colagens suaves de elementos e espaços. O que se vê é o que é. Um todo simples em vez de complicado. Simplicidade sobre complexidade? Algum tipo de moderação. Algum tipo de linguagem a ser definida. Algum tipo de diálogo a ser construído. Que tipo? Com aroma flamengo. Quase internacional. Dentro de um contexto infeliz. Felizmente local.