Construída num lote particularmente empenado, a geometria da cidade reflecte-se nos espaços interiores da casa, sobretudo no carácter assimétrico dos novos elementos que lhe foram acrescentados. A limitação das portas ao estritamente necessário permitiu potenciar os atravessamentos de luz e de ar, horizontais como verticais, desde a rua até a um novo pátio triangular extraído do amontoado de anexos que foram demolidos.
Tal como na casa-atelier, e sempre que possível, o seu desenho tirou proveito do que foi encontrado, prolongando a estrutura do existente com recurso a materiais e técnicas construtivas correntes que nem por isso perderam as oportunidade surgidas, como é o caso da escada, para se tornarem inusitadamente expressivas. Em “Learning from Las Vegas”, Izenour, Venturi & Scott-Brown observaram que “a arquitectura pode ser ordinária - ou antes, convencional - por dois motivos: pelo modo como é construída ou pelo modo como é vista, isto é, pelo seu processo ou pelo seu simbolismo.” Nesta casa, como de modo geral, poderá dizer-se que o nosso interesse recai acima de tudo sobre o primeiro. Num momento em que redescobrimos esse outro lado da arquitectura da cidade que é o das periferias, essa perspectiva foi de tal forma assumida e ensaiada que se considerou que mesmo um banal tubo de queda em PVC, apesar de “feio e ordinário”, se pode tornar interessante. Quanto mais não seja, pela sua cor e pela excentricidade que resulta da sua presença no sítio errado. Entre inúmeros compromissos materiais, este projecto foi o resultado possível de um longo e atribulado processo, mas que de algum modo encontrou uma forma (ou, pelo menos, um formato) de chegar a bom porto.