Ancede
Baião, 2018–23
Equipa
João Paupério
Maria Rebelo
Francisco Craveiro
Fotografia
Francisco Ascensão
Ancede
Baião, 2018–23
A ruína de pedra era demasiado pequena.
Existia uma ruína de pedra e a perspectiva de construir uma extensão de 300 m2. Após uma série de incêndios florestais, o terreno integrou uma reserva ecológica nacional e isso deixou de ser possível. A ruína era demasiado pequena, mas um desfasamento entre realidade material e jurídica permitiu ampliar a implantação de 35 para 60 m2. O suficiente para conter as infraestruturas em falta. Propôs-se a reconstrução, deslocando duas paredes para obter o espaço suplementar. No espírito ecológico pressuposto, o telhado, as lajes e os caixilhos deveriam ser produzidos em madeira e as paredes exteriores isoladas com cortiça.
O tempo longo da arquitetura fez o projecto atravessar uma pandemia, uma obstrução do Suez e várias guerras. Aliando-se à escassez de mão de obra qualificada em Portugal, o desenho original tornou-se impossível e foi reformulado conforme as condições de um empreiteiro local. A forma manteve-se, mas a construção tornou-se a possível: uma estrutura em betão, bloco térmico e MDF hidrófugo, revestidos com uma camada de tinta ou verniz. Produzidos para ficar escondidos, os materiais foram utilizados “como encontrados” e “como são”, ao espírito dos Smithsons ou de Sakamoto. Os caixilhos de alumínio foram escolhidos de um catálogo, subvertidos apenas por uma cor vívida. Todas as pedras da ruína foram reutilizadas em novos muros de suporte.
Os desenhos apresentados reflectem não tanto o projeto original, mas o que de certa forma foi “desenhado” por outros, sob orientação dos arquitectos. Isto inverte o seu significado, desvelando o sentido compositivo de uma construção, de outro modo, ordinária. A riqueza espacial resulta da sua economia, traduzida numa maximização do gesto mínimo. Perante questões sócio-políticas macroscópicas como a economia e a ecologia, a arquitetura pouco mais pode fazer do que contribuir para uma definição mais generosa desse mínimo.
Em 2024, a Casa em Ancede foi distinguida no Prémio Jovens Arquitectos e vencedora dos Prémios Nacionais de Arquitectura Forma, na categoria Jovens Emergentes. Foi ainda uma das 24 obras seleccionadas para o festival arquia/próxima 2024, comissariado por Marina Otero.